quarta-feira, 16 de dezembro de 2015






Rio em Preto e Branco

Corcovado - Tom Jobim


Cantem comigo:

Um cantinho e um violão
Esse amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama
Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor que lindo
Quero a vida sempre assim 
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade, meu amor


            Parque do Flamengo

O jornal O Globo, do Rio de Janeiro, diz que no dia 17 de outubro de 1965, foi inaugurado informalmente o Parque do Flamengo, ou mais informalmente ainda, o Aterro do Flamengo. E que o solo é pobre, composto de uma mistura de granito, pedras e areia retiradas do desmonte dos morros do Castelo, Santo Antônio e Querosene, criando-se uma área de um milhão e duzentos metros quadrados, que vai do Aeroporto Santos Dumont ao Morro da Viúva.
Diz ainda que o espaço ganhou formas, cores, volumes e texturas graças a determinação de Maria Carlota de Macedo Soares, que convenceu o Governador da Guanabara, Carlos Lacerda a construir o nosso Central Park. Coube a Burle Marx o paisagismo e ao arquiteto Affonso Eduardo Reidy o projeto do Museu de Arte Moderna (MAM).
Da flora, no Aterro, estão representados espécies dos biomas brasileiro (mata atlântica, serrado, amazônia, caatinga), Sri Lanka, Ilhas Fiji, índia. Foram plantadas 17 mil mudas de mais de 300 espécies. Diz a reportagem que só ao redor do MAM podem se vistas mais de 200 espécies.
O Parque não tem linhas retas, combina com as curvas dos morros, das montanhas e das praias. Tem pistas de aeromodelismo, quadras esportivas, anfiteatro, teatro de marionetes, campos de peladas, pista de skate, Museu Carmem Miranda, a Marina da Glória e o Monumento aos “pracinhas” mortos na Segunda Grande Guerra. E mais recentemente o Teatro Vivo Rio.
A reportagem da qual tirei esses dados é de Ludmila Lima e Rafael Galdo e que me levou a década de sessenta, em que foi construído o Parque. Posso dizer que testemunhei a sua construção, pois nessa época morei no Flamengo, Rua Paissandu e todo fim de semana, de manhã, saia para ver os pescadores, com suas varas, linhas e minhocas, como iscas, na murada de pedras que construíram na orla,  substituindo a murada que havia antes do aterro. Não sei se pescavam peixes, mas com certeza levavam muitos baldes cheios de mariscos retirados de suas pedras.
Depois que me mudei para Fortaleza, toda vez que ia ao Rio me hospedava no Flamengo Palace Hotel, décimo primeiro andar, só para ver o Parque. Paisagem inesquecível. Desde o amanhecer até nas madrugadas quando os garçons dos vários hotéis da redondeza disputavam peladas, com uniformes, juízes e creiam - arquibancadas. Carlota deve estar lá de cima esbravejando com as autoridades cariocas que não estão cuidando do Parque como deviam. Ainda assim o Parque é uma das “flores raras, mas belíssimas”, que o Rio de Janeiro tem para nos mostrar. Vai, lá...





                  São Cristovão – SE

Fiz, em tempos relativamente curtos, duas viagens a Aracaju, capital do Estado de Sergipe. A cidade para mim foi uma agradável surpresa. Na primeira viagem, visitei também a histórica cidade de Laranjeiras, com seus casarões, seu museu afro-brasileiro, a gruta da Pedra furada e resquícios das suas lutas durante o período da escravidão.
Na segunda visita, fui a São Cristovão. Me encantei. Dizem os folderes turísticos, que São Cristovão foi a primeira capital do estado de Sergipe. Transferida para Aracaju, e 17 de março de 1855. Cidade planejada.  É a quarta cidade mais antiga do país. Depois, apenas, de Salvador, Rio de Janeiro e João Pessoa. Data da sua fundação: 1º de janeiro de 1590.
A cidade é considerada monumento nacional. Está situada a vinte seis quilômetros da capital, Aracaju e a quarenta e sete metros acima do nível do mar. Tem uma área de 436.863 km² e uma população de 84.620hab.
O dia em que a visitamos o sol resplendia na praça histórica quase vazia. Fazia calor. E as igrejas pintadas de branco tornava o dia mais claro, ainda. A arquitetura singela das casas e igrejas não lembra nem de longe as fachadas trabalhadas das cidades históricas mineiras.
Um dos sergipanos mais famoso, que me lembre, agora, é José Veríssimo, autor de uma História da Literatura Brasileira, em dois volumes e de suas polêmicas com Sílvio Romero. Creio que os dois primeiros grandes nomes a estudarem a literatura brasileira. Pois, são consultados até hoje.
Uma das lembranças mais gratas dessa visita a São Cristovão foi de ver pela primeira vez uma imagem de São Alberto, numa de suas igrejas. Só isso para mim já valeu a viagem. Não duvidem mais de mim, pois, agora tenho como provar que ele existiu, de veras. Seu dia é 15 de novembro. Padroeiro dos cientistas, dos filósofos e dos estudantes. Está escrito, et alors!

terça-feira, 24 de novembro de 2015



Papoulas ou hibiscos?

Uma das exigências que me fiz ao mudar do Rio de Janeiro para Fortaleza, em 1978, foi morar numa casa com um pequeno quintal. Estava cansado de morar em apartamentos. Em Manaus sempre morei em casas. É claro, na época, não havia edifícios de apartamentos. Gosto de plantas. Queria voltar a cultivar algumas.
Minha mãe gostava de rosas. Consegui oito espécies. Eu me enamorei de papoulas. Até que um dia conversando sobre as ditas com minha amiga Clóris, ela me corrigiu dizendo que o que admirava não era papoulas e sim, hibiscos. Não gostei do nome, mas quem sou eu? Diante dos eruditos falava de hibiscos, entre os meus iguais, era papoula, mesmo.
Ao nota-las, no Rio de Janeiro, pensei que só existisse uma espécie – as vermelhas, simples. Ao chegar aqui vi que há uma variedade muito grande de cores e formas. Cheguei a cultivar doze espécies; brancas, vermelhas, rosa, amarelas, roxas, creme ora com tonalidades mais fortes ou menos, simples ou dobradas. Fotografei-as.
Curioso que sou, procurei saber se havia diferença entre hibiscos e papoula. Consultei mestre Houaiss e ele me disse que sim. A papoula é encontrada, principalmente, do Irã a China. É um alcaloide e dela extrai-se o ópio e a morfina, por exemplo. Já o hibisco é natural das regiões tropicais, também um alcaloide, usado em medicamentos e na extração de fibras e graxas. Há mais de 300 espécies.
Fui depois ao professor Google em busca de imagens, das duas. Há também uma grande diversidade de formas e cores. Quando li que dela se extrai uma espécie de graxa, lembrei-me que em épocas de vacas magras, como a que está se aproximando, elas, as “papoulas”, eram usadas pelos “duros de então” para lustrar sapatos. Graxa de estudante.
Larissa, mestra em informática, presenteou-me com o painel, que ilustra essas pequenas notas. Fotos das espécies cultivadas na casa 990, da Rua Pedro de Queiroz, Fortaleza, Ceará, Brasil, por este amazonense, de ancestrais nordestinos. Êta, cabra da peste!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Parati





Parati - relembranças

O filme é um curta-metragem, da década de noventa, transformado em DVD, nesses dois mil e tantos, por um dos participantes. Começa com uma panorâmica local: cidade de Parati. Época; anos noventa, ou mais precisamente, 1999. Há dezesseis anos, portanto. Que embora um dos atores nunca o tinha visto até dois anos atrás. São  três casais e um solteirão. Quatro arquitetos, duas donas de casa e um sem vocação. Todos já na faixa que a ONU chamava, na época, terceira idade.
O que os levou a reunirem-se em Parati? Creio que a necessidade de “falarem-se”. A amizade solidificou-se em frequentes reuniões desde que se conheceram, onde conversavam, discutiam, dançavam, namoravam e até casavam-se. Agora, um casal morava em São Paulo, o um em Fortaleza e os outros no Rio de Janeiro. Visitas rápidas, telefonemas não satisfazia. O encontro foi marcado.
O que os unia? Creio que as preferências culturais: literatura, cinema, teatro, música, fotografia (a prova é que no encontro havia uma câmera e três máquinas fotográficas). Penso que a amizade é um encontro de identidades.
O que fizeram nesses três dias? Além de admirar essa cidade incrivelmente fotogênica? Comer, dormir, tour pela baia, falar, falar, falar. Sobre que? Lembranças, rememorações, o que fizeram e faziam nas temporárias ausências. A vida de cada um. No final houve a promessa de novas reuniões, que não se realizaram.
Hoje, revi o filme. Foi emocionante. Pena que esteja faltando um. Senão eu iria sugerir uma nova reunião. O vídeo que estou mostrando acima é o da viagem. Acreditem - Parati é embriagante.


sábado, 17 de outubro de 2015




                       Esculturas interativas

De quem teria sido a ideia de “homenagear” os artistas do país, com estatuas em várias lugares das cidades? Creio que a primeira que me chamou a atenção foi a de Carlos Drumond, sentado num banco na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Ele que era tão reservado, agora, se veria exposto ao sol e a chuva, como pouso de pássaros e principalmente abraçado e tocado para as inúmeras fotos de turistas que por ali passam.
A primeira vêz que vi uma, aqui, foi a de Patativa do Assaré, no térreo do Dragão do Mar. Assustei-me. É lúgubre. Sem nenhum atrativo. As pessoas passam indiferentes ao vulto do ilustre poeta popular. Triste “homenagem”.
Numa recente viagem a Recife fique com raiva ao ver, por indicação do chofer, os vultos de Ascenso Ferreira, que apesar do verso “descansar que ninguém é de ferro” não merecia a indiferença de quem o vê só e indefinidamente sentado as margens do Capibaribe; do discretíssimo João Cabral de Melo Neto, pensando o seu Cão sem Pluma, olhando o mítico rio; e pior ainda a de Manuel Bandeira, que de tão reservado quase foi esconder-se em Passagarda. Oh! God.
Agora recebo um número da revista de “O Globo“, trazendo fotos das estátuas erguidas em diversos bairros do Rio de Janeiro ‘homenageando”: Joaquim Nabuco em frente da ABL; Zózimo Barrozo do Amaral, no Leblon, Ari Barroso, em Copacabana, Noel Rosa, em Vila Isabel,  Renato Russo, na Ilha do Governador, Ismael Silva, no Estácio, Ibrahim Sued em Copacabana, Estudante de Arte, no Parque Lage, Dorival Caymmi, em Copacabana, Michael Jackson, no Dona Marta, Luiz Gonzaga em São Cristovão, Manuel Bandeira (de novo?)no Centro, Reverendo Ashbel e esposa, no Centro e Pixinguinha e seu sax, também no Centro do Rio de Janeiro.

O artigo diz que são 23 as já existentes, e são chamadas de “Esculturas interativas”. Anuncia para breve as estatuas de Tim Maia, Cazuza e Pelé. Carmem Miranda vai para a Lapa e pecado dos pecados, Clarice Lispector, no Leme. Se continuar nesse ritmo, as Olimpíadas de 2016 se realizarão, não na cidade Maravilhosa, mas na Necrópole Maravilha. “Cidade maravilhosa cheia de estátuas miiiiiiiiiiis.....” 

terça-feira, 29 de setembro de 2015





         As surpresas de Foz do Iguaçu

     Já tinha visitado Foz do Iguaçu várias vezes, mas sempre me atendo as Cataratas e ao Parque das Aves e nunca a cidade propriamente dita. Embora seja apaixonado por cidades. Desta vez, não. Obedeci ao programa da excursão. E que surpresa!
   A primeira foi a Mesquita árabe Omar Ibn Al-Khatab. Com suas torres e seus minaretes, onde os muezin, convocam os fies as cinco preces do dia. Sobre a porta principal uns dizeres em caracteres árabes que mais parecem arabescos em ouro desenhados. Infelizmente não gravei a tradução, feita pela recepcionista.
A Mesquita foi inaugurada em 1983 e diz um folding que tem 1.248 metros quadrados de área construída. O que nos mostraram foi uma sala de 58 metros quadrados, decorada em azul e branco, com um piso demarcado para comportar um corpo humano ajoelhado, dobrado, pousando a cabeça no chão. Posição em que rezam os muçulmanos. Para entrar na Mesquita os homens têm estar descalços e as mulheres com a cabeça coberta.
Nos arredores da Mesquita ficam a Escola Árabe Brasileira e o Centro Cultural Beneficente Islâmico de Foz do Iguaçu. Construções grandes e creio que internamente bem instaladas para as suas finalidades. Isso, me levou a pergunta: existem tantos muçulmanos em Foz do Iguaçu, para usar tais instituições?

 Procurei, mas só agora com a ajuda de meu amigo Rafael, tive a resposta. Foz do Iguaçu tem uma população muçulmana de 5.599 pessoas, segundo o senso de 2010. Suplantada apenas por São Paulo, com 8.277. A sua Mesquita também é a segunda em área. Creio que esses números estejam defasados. Em cinco anos muito islaminhos devem ter nascidos e os conflitos étnicos e religiosos no oriente médio devem estar contribuindo para o aumento da população muçulmana no país. Principalmente de sírios dos quais muitos brasileiros descendem. Salaam Aleikum.


         Templo Budista de Foz do Iguaçu

A outra grande surpresa encontrada, em Foz do Iguaçu , foi a visita ao Templo Budista. Afinal de contas, já havia lido algumas obras sobre a China e comido alguns pratos de sua culinária. E ouvido depoimentos de famosos artistas brasileiros que dizem praticar o zembudismo, mas nunca imaginava ver nada igual.
O Templo inaugurado em 1996 e foi construído pelas comunidades chinesas da tríplice fronteira: Brasil, Argentina e Paraguai. Cobre uma área de 50 hectares. Nesse espaço vê-se o Templo Principal, de dois andares, onde localiza-se a Casa do Mestre. Arquitetura tipicamente chinesa.

Uma volta pelo gramado, ao redor do Templo, existe uma verdadeira exposição de esculturas representando as figuras dos mais representativos Budas da religião (ou filosofia?) chinesa. Por exemplo, a réplica em concreto do Buda Mi La Pu-San de sete metros de altura e da fileira dos 120 estatuas representando a encarnação de cada um dos budas, na terra. Figuras míticas. Coloridas. Perfeitamente esculpidas. Inusitado. Lindo.
Termino essas pequenas notas transcrevendo esse delicado poema de Wang Wei (701-761) publicado nos” Poemas Clássicos Chinese”, da L&PM, traduzidos por Sérgio Capparelli e Sun Yuqi:

‘Você que acaba de chegar
      do lugar onde nasci:
deve saber de tudo
       o que acontece.
Por favor
        antes de partir,
viu se na frente da janela com a cortina de seda
         a pequena ameixeira de inverno

já estava florida?”

sábado, 15 de agosto de 2015


Caraças

          Há dias vi uma reportagem na televisão sobre a visita que um lobo guará faz toda noite (quando está com fome, é claro) ao pátio do Santuário do Caraça, em Minas Gerais, para saborear os quilinhos de carne, que os padres generosamente lhes oferecem. E, então, me lembrei da visita que fiz a esse Santuário em 2002, numa excursão com alguns amigos.


O nome oficial é Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Fica situado num trecho da Serra do Espinhaço, cuja altura varia entre 720 e 2070 metros acima do nível do mar., pertence ao município de Catas Altas, Minas Gerais. Hoje, o Caraça é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, por força do decreto 98.914, de 31/01/1990. O apelido de Caraça é devido a forma da montanha que lembra a cabeça de um gigante, deitado.


A história do Caraça é um pouco misteriosa e vem do século XVIII, portanto do Brasil Colônia. Conta-se que ele foi visitado por D. Pedro I e a imperatriz D. Amélia e D. Pedro II e imperatriz D. Teresa Cristina. Seu colégio teve pelo menos dois presidentes da república como alunos: Afonso Pena e Artur Bernardes. Dizem que o pintor holandês. Rugendas andou por lá, registrando-o em uma de suas telas. Me disseram, também, que a Missa dos Quilombos, de Milton Nascimento, foi gravada nas dependências da Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens.


A igreja em estilo neogótico tem belos vitrais franceses (um padre nos mostrou enormes livros encadernados escritos a mão em francês), um órgão em pleno funcionamento e o original de luma Ceia pintado por Manuel da Costa Ataíde. Em 1968, um grande incêndio destruiu a biblioteca, mas já foi completamente restaurada. A biblioteca conta com um museu da vida colegial e um acervo livresco dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX.


Na noite que decidi esperar o lobo, me frustrei. Fazia muito frio, ele demorou muito e eu fui dormir. Soube da visita de manhã. Não tiveram coragem de fotografar? Acreditei. Noblesse oblige. Uma das coisas mais gostosas da hospedaria é a cozinha. Fogão de lenha, onde os hóspedes preparam, eles mesmos, o seu café. Os quartos são muito simples, poderíamos até chama-los de cela: uma cama, uma pequena mesa e uma janela que se abre para uma niemariana curva de montanhas, ainda cobertas de Mata Atlântida. A escadaria da frente, o pátio e o jardim são no estilo francês. Não fizemos as trilhas, preferimos visitar as cidadezinhas vizinhas: Santa Bárbara e Catas Altas, nas quais existem obras de Aleijadinho. 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Recife em três tempos





Recife em três tempos
     
   Castelo São João – Ricardo Brennand.

Ricardo Coimbra de Almeida Brennand,  nascido em Cabo de Santo Agostinho em 27 de maio de 1927, engenheiro, é o fundador do Instituto Ricardo Brennand.  O istituto é composto de três prédios: o castelo São João, a Biblioteca e a Pinacoteca. A capela só abre no terceiro domingo do mês, quando é rezada uma missa. Esses edíficios estão situados numa imensa area gramada, onde estão distribuidas esculturas de vários artistas, estre elas o “A dama e o cavalo”, de Manuel Botero, uma reprodução do David de Miguel Ângelo e dentro do prédio, o “Pensador “ de Rodin.
 Durante anos ele se dedicou aos negócios da familía, fabricação de vidro, aço, cimento, porcelana e açucar. Em 1999,  vendeu a fábrica de cimento e com o dinheiro da venda iniciou a construção do que é, hoje, o Instituto Ricardo Brennand, fundado em 2002. E, em cujas salas, podemos apreciar: móveis, tapetes, candelabros, lanças, armaduras vestindo cavaleiros, arcas, baus, desde a Baixa Idade Média até o século XX.
O Museu é considerado uma das vinte maiores coleções particulares do mundo. Dizem que ele aos doze anos de idade ganhou de um tio homônimo, um canivete e desde então começou a colecionar armas, contabilisando cerca de  tres mil peças, atualmente.
É o lugar ideal para estudar o Brasil Holandês. A maior coleção de Frans Post, quinze quadros e tapetes sob desenhos de Albert Eckout, artistas holandeses trazidos ao Brasil por Mauricio de Nassau. Há numa vitrine uma edição de 1647, do livro “Rerum per Octenium in Brasilia, de Gaspar Barleus, ilustrado por  Frans Post.
É inusitado sair de Recife e meia hora depois encontrar uma obra desse calibre. Uma visita imperdível!
                       
 Oficina de Cerâmica  -  Francisco Brennand             

Visita a “Oficina Cerâmica Francisco Brennand”, do escultor e artista plástico, Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand (11/06/1927), instalada no bairro da Várzea, no terreno onde funcionava o antigo Engenho, depois a fábrica Cerâmica São João, onde nasceu o artista. Diz o google, que:
  “ Inicialmente, Brennand acreditava ser a cerâmica uma arte utilitária, menor, e por isso dedicou-se sobretudo à pintura a óleo. Entretanto, ao chegar à França, em 1948, deparou-se com uma exposição de cerâmicas de Picasso, e descobre que muitos dos artistas da Escola de Paris haviam passado pela cerâmica: além de Picasso, Chagall, Matisse, Braque, Gauguin, e sobretudo o catalão Joan Miró”.
A fábrica de cerâmica, fechada em 1945, ficou abandonada, quase em ruínas, por muito tempo. Quando voltou da Europa e depois de aceitar a ideia de que a cerâmica era uma arte maior, Francisco Brennad reconstruiu a fabrica, aproveitando todas as estruturas existentes e  com algumas adaptações, estabeleceu o monumento que é hoje.
As esculturas de Brennand podem ser apreciadas também em várias partes da cidade, principalmente no Marco Zero, onde se vê  do outro lado, o Parque Brennand, cujos trabalhos estão assentados na murada construída sobre os arrecifes que defendem  e dão nome a cidade.
Na década de 1970, Brennand participou do Movimento Armorial, com seu velho amigo Ariano Suassuna, de quem tinha sido colega de escola e ilustarador de seus primeiros poemas.
Creio que, hoje, o local, juntamente com o Castelo São João, de seu primo Ricardo Brennad, é um dos pontos turístico cultural mais importante da cidade do Recife. Possui mais de 2.000 peças,  espalhadas no corpo do estabelecimento e nos seus jardins  traçado por Roberto Burle Marx.  Há também uma loja, a Bibliopolion, onde podem ser encontrados livros sobre o artista, peças cerâmicas, cartões postais, serigrafias e uma lanchonete, chamada Cantina dos Deuses.
Enquanto as obras do Castelo foram todas adquiridas, as da Oficina foram todas construídas pelo próprio artista. Só essas duas visitas vale uma ida a Recife, vice!
                      
       Passeio de catamarã  -  Rio Capibaribe.

A palavra capibaribe vem do tupi kapibara = a capivara; mais y = a água e pe = igual a em – “rio das capivaras”. Nasce na serra de Jacarará, no município de Poção. Tem um curso de 248 quilômetros e banha 42 municípios. Atravessa a cidade de Recife. Deságua no oceano Atlântico. A palavra Recife vem do árabe, arrasif , isto é, caminho pavimentado, parede de apoio, dique, muralha, cais, segundo o Houaiss.
É uma bela opção para um fim de tarde. As suas margens vê-se as esculturas de Francisco Brennand, nos diques, a fachada do cinema São Luis, restaurado e em pleno funcionamento, a Praça das Princesas e o teatro Santa Isabel... Passamos sob cinco pontes, inclusive a do Galo da Madrugada. O chofer de taxi que nos serviu durante essa estada nos disse que Recife tem oito pontes. No passeio, passamos sob cinco.
O rio Capibaribe foi motivo de um belo poema de João Cabral de Melo Neto: “Cão sem pluma” e de “Evocação do Recife”, de Manuel Bandeira, do qual, para terminar essas notas, eu invoco esse trecho:
............................................................................................
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora
                               -onde se ia fumar escondido
Capiberibe
- Capibaribe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
fiquei parado o coração batendo
ela se riu

                               Foi o meu primeiro alumbramento”

quinta-feira, 16 de julho de 2015


Meu caro Aniel:

Há vários dias que estou pensando em escrever para você, mas na hora de enfrentar o computador dá um desânimo. É que geralmente acontece depois de ver um jornal televisivo e o que se vê e ouve sobre o Brasil e o mundo é de estarrecer. Fico triste, sabe. No Brasil o que mais se ouve nesses últimos dez ou mais anos são dois palavrões. mensalão e petrolão. E os seus consequentes: lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, propina... e advogados, juízes, industriais, políticos algemados, colocados no porta mala de carros de polícia, enfim...
A quantidade de dinheiro surripiado é tão grande que se cobrada creio que daria para pagar a dívida pública brasileira. O principal fator do fracasso da economia brasileira, segundo ouço da maioria dos economistas entrevistados. Nunca imaginei que o Brasil tivesse tanto dinheiro em cofres particulares. Mama mia! E se não bastasse, vem agora o escândalo internacional da Fifa. Já imaginou quando começarem a fazer auditorias nas federações, clubes, na compra e venda de jogadores brasileiros?
Mas, vamos ao que nos interessa, literatura: acabo de ler uma antologia de poemas da russa Anna Akhmátova, organizada e traduzida do russo por Lauro Machado Coelho. Já a conhecia da leitura de poemas publicados em suplementos de jornais. O meu interesse, hoje, está na apresentação feita pelo tradutor. Lá pelas tantas, depois de falar sobre a sua poesia e o seu meio intelectual, o que ele conta me deu calafrios. Ele diz que todos os contemporâneos dela tiveram um fim trágico e dá alguns exemplos: Marina Tsvietaieva, Essênin, Maiakóvski,, Isaac Bábel, Borís Pilniák, Vladímir Nárbut, -Ossip Mandelshtám, Nicolái Zabolóstski, Damil Kharms e outros ou suicidaram-se ou desapareceram em campos de concentração.
Ela própria foi “perseguida pelas autoridades stalinistas, que além de proibiram-na de publicar seus trabalhos, teve de enfrentar o fuzilamento de seu primeiro marido, a morte do terceiro, num campo de concentração e a terrível angústia de ver o filho preso, sem causa comprovada. Conhecemos um pouco dessa histeria, aqui. O que me agrada nessa poeta é o tom intimista da sua poesia. Exemplo: “ O rei de olhos cinzentos
Glória a ti, inconsolável dor!
Ontem morreu o rei de olhos cinzentos.

A noite de outono era rubra e quente.
Meu marido, ao voltar, disse baixinho:

“Sabe, trouxeram-no da caçada,
acharam o corpo lá no velho carvalho.

Que pena da rainha. Tão jovem!...
Numa noite só ficou grisalha”

Pegou o seu cachimbo na lareira
e lá se foi ele pro trabalho noturno.

Agora vou acorda minha filhinha
E olhar para seus olhinhos cinzentos.

Na janela, o álamo murmura:
“Teu rei já não é mais Este mundo”.

Diz o introdutor, que esse é um de seus poemas mais populares. E que foi musicado por Serguêi Prokófiev. É também um dos que mais gosto.

Um grande abraço, Alberto.

quarta-feira, 1 de julho de 2015


Flashes do Rio
(26/04 a 03/05/2015)

Num desses últimos sábados, Angélica apresentou seu programa Estrelas, no Parque Nacional da Tijuca, ou Floresta da Tijuca, como é mais conhecido, no Rio de Janeiro.  O almoço foi servido no local chamado Mesa do Imperador. O convidado era o ator e chefe de cozinha, Rodrigo Hilbert. Adepto da bicicleta, como esporte. Praticando-o justamente, ali.

 Antes do almoço, porém, Angélica mostrou as belezas da região, inclusive o mirante, chamado de Vista Chinesa. O mirante fica a uns 380 metros acima do nível do mar. De lá, pode-se avistar o Cristo Redentor, a Lagoa Rodrigo de Freitas, as Praias de Ipanema e Leblon e muito distante o Pão de Açúcar. E grande parte da floresta, é claro.

De um folding turístico soube que o nome Vista Chinesa, deve-se ao fato de que o Príncipe D. João VI ter importado agricultores chineses, de Macau, para tentar introduzir a cultura do chá, no Brasil. Fracassada a empreitada, alguns chineses ficaram residindo na região. Dizem que Rugendas registrou a faina desses chineses em algumas de suas telas. Será uma das que pedi emprestado ao Google e usei como ilustração?

O pagode, diz o folding, foi mandado erguer pelo Prefeito Pereira Passos, em 1903, em lembrança do fato e o projeto foi do arquiteto Luis Rei. É uma argamassa copiando o bambu. Fui  lá, com um grupo de amigos, algumas vezes, na década de cinquenta. Por gentileza de amigos, revi-o, agora, e porque não (?) bastante emocionado. De lá, tem-se uma bela panorâmica desta inesquecível cidade.

                               *****

Nesses oito dias de Rio de Janeiro, fizemos vários tours, guiados por Helena, a piauiense mais carioca que muitos cariocas, que conheço. Fomos do Porto Maravilha até a Ilha Pura, Cidade da Música, passando por novos túneis, intermináveis trilhos de BRTs, guindastes, terra revolvida e tapumes, tapumes, num verdadeiro delírio de criação e inovação. Ué! Pereira Passos resuscitou?  E nesses tours que começavam as dez ou onze horas e  terminavam as dezesseis ou dezessete, naturalmente, almoçamos em restaurantes os mais diversos.

Por exemplo, o “Casa do Bacalhau”, no Meyer, no “Rancho Verde”, em Jacarepaguá, no “Oficina do Peixe”, em Guaratiba e também,  no “Berbigão” e “Caneco 70”, no Catete.  E o que tinha de mais, nesses restaurantes? Em todos fomos servidos por garçons cearenses. No “Rancho Verde”, o “maitre” Luis é do Cariri. Todos declaradamente satisfeitos, mas com saudades da terra. A carne de sol, a rapadura, o baião de dois. Mas pelo jeito só voltarão para os seus cariris no último pau de arara. Ô xente!

                               *****

Onde vamos, agora? Helena então nos convida a visitar a cidade de Jerusalém, dos tempos de Jesus. Um pouco surpresos, mas sempre confiando nas suas dicas, lá fomos nós a Avenida Dom Helder Câmara, 2442, Del Castilho, Visitar o Centro Cultural Jerusalém.

E foi realmente uma grande surpresa. Trata-se de uma maquete, instalada em 730 metros quadrados, da cidade de Jerusalém, na época do segundo templo. O templo foi consagrado em 516 a.C após o retorno da Babilônia.  A maquete reproduz com detalhes a arquitetura das muralhas, templos, palácios, casas, jardins, construídos nos morros e declives do terreno de então.

A visita foi guiada por uma jovem que me pareceu uma estudiosa de história e não uma simples decoreba. Explicava todos os espaços como o Palácio de Herodes, o Tanque de Siloé e o Morro do Calvário, onde Jesus foi crucificado, com um tom tão verdadeiro, que parecia uma guia mostrando o Porto Maravilha, hoje.

A maquete pode ser vista no nível em que ela foi construída ou no alto, de um patamar que a rodeia, numa visão superior. A guia ainda nos informa que as pedras os mármores vieram todos de Jerusalém. Muito interessante, também, é que a cidade (maquete) é apreciada de dia e de noite. Em certos momentos do discurso da guia as luzes se apagam, as candeias das edificações se acendem, podemos ver seus interiores, e a cúpula que cobre a maquete reproduz o céu da época..

Foi aí, quando as luzes se acenderam que, de repente, como num rápido flashback, eu me lembrei do presépio de Natal, no porão da casa de D. Ilca, em Manaus, nos anos trinta, do século passado. O som de um coral e o susto de me sentir duas vezes fora do tempo presente. É uma visita que pode ser apreciada por crentes e increus. Yeruchalaim!! Yeruchalaim !


sábado, 20 de junho de 2015



                               SÃO JOÃO

   As festas juninas sempre fizeram parte da minha infância e da minha adolescência. Na infância, na Fazenda, as festas eram comandadas por tia Isaura. A tia festeira. Ela providenciava a fogueira, o pau-de-cebo, o aluá, a gengibirra, os bolos de macaxeira, os pés-de-moleque, o munguzá, a pamonha, a cangica, o milho cozido ou assado... e não se esquecia do espetáculo. Ela mesma confeccionava as fantasias de chita e a maquiagem feita com papel crepom vermelho umedecido água. O violão e a rabeca acompanhavam os cânticos previamente ensaiados.

Já na cidade, quem comandava a festa era meu pai. Era a festa que ele mais gostava. Ele se divertia e nos divertia destribuindo fogos: estrelinhas, bombinhas, para as crianças, busca-pés e rojões para os adultos. As fogueiras eram acesas nas ruas e delas participava toda a vizinhança. Era frequente ouvir-se alguém convidando alguém:
- Vamos passar de fogueira?
- De primo?
- Não, de compadre?

E lá se ia o parentesco aumentando. As vezes pra valer. E ninguém tinha vergonha de, ao se encontrarem, invocar o parentesco ou pedir a benção:
- Bença, madrinha!
- Deus te dê juízo!

O momento preferido das mulheres era o das adivinhações, mas ninguém se fazia de rogado. Lembro-me de algumas: faca nova enterrada no tronco de bananeira revelaria, no dia seguinte, o nome do eleito ou eleita; clara de ovo dentro de um copo d´água desenharia a imagem do pedido; o rosto refletido ou não numa bacia cheia d´água, a meia-noite, diria se o curioso ou curiosa chegaria ou não ao ano seguinte. As vezes, tanto no copo, como na bacia d´água, a clara de ovo esculpia-seu um barco a vela, singrando rios ou mares sonhados ou desejados.

O momento culminante da festa era a chegada do boi-bumbá. A primeira vez que vi um, tive medo. As famílias contratavam o boi para dançar na frente de suas casas. Havia bois famosos: Boi Estrela, Corre Campo, Caprichoso... Com o tempo fui me acostumando. E passei a admirar o colorido das fantasias das personagens (o boi-bumbá é um auto), bordadas de lantejoulas, o veludo macio do corpo do animal, as fitas de diversas cores evoluindo ao som dos cânticos e das danças características.

O interesse da família pelas festas juninas talvez viesse do fato de que meu avô fazia aniversário no dia treze de junho e chamava-se Antônio, minha avó era do dia vinte e seis e chamava-se Joana e um dos tios mais chegado chamava-se Pedro. Todos do lado materno. Hoje, como diria Manuel Bandeira em seu famoso poema:
             “Estão todos dormindo
               Estão todos deitados
               Dormindo
               Profundamente.”  


sábado, 9 de maio de 2015


                          De guerreiro a turista


 Hoje, dia 7 de dezembro de 2014, pegando, por acaso, a história do Amazonas, de Aguinaldo Figueiredo, lá na página 140, ele faz um breve registro da participação do Amazonas, na Segunda Grande Guerra e leio que nesse dia, embarcavam no porto de Manaus, no navio “Cambrige”, 120 soldados do 27º Batalhão de Caçadores, rumo a Belém, do Pará, para se integrarem ao contingente paraense e de lá seguir para o Rio de Janeiro, a fim de fazer parte da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Pois, um desses cento e vinte era eu. Tinha esquecido completamente. Também, há a sessenta anos! Ele transcreve o depoimento do soldado Hilário Pimentel, que reproduzo em parte:

“Depois de 8 dias de viagem de Belém até o Rio de Janeiro, chegamos nesta cidade no navio “Cuiabá”, do Loyde Brasileiro, indo se aquartelar na Vila Militar do Realengo, onde fomos incorporados ao Regimento Sampaio...”.”Ficamos no Rio de Janeiro até o dia 14 de fevereiro de 1945, quando embarcamos de surpresa no navio de transporte militar “Comte. Mann”... “com destino a Nápoles, Itália, onde chegamos no dia 22 fevereiro de 1945, um dia após a tomada de  Monte Castelo por nossas tropas.”

A minha história  como expedicionário termina justamente na véspera do dia do embarque, no Rio de Janeiro. Era o terceiro e último escalão. Pois, a guerra terminou no dia 8 de maio, com a assinatura do armistício entre as potências envolvidas.  Não fui porque na véspera do embarque eu e mais dez soldados amanhecemos com a cara irreconhecivelmente inchada. Levados ao posto médico, recebemos o diagnóstico: caxumba. Dalí, fomos direto para o Hospital Militar, ala de incomunicáveis, pois a doença, na época, era considerada: contagiosa. Não sei se ainda é.

A princípio fiquei desolado. Meus amigos e companheiros tinham ido, todos. Só eu fiquei, entre milhares de outros soldados, desconhecidos. Depois de curado fui transferido para o Forte de Copacabana. Aguardar a baixa e voltar para Manaus. Como não dava serviço e fiquei sob as ordens de um oficial muito liberal, aproveitei o tempo para conhecer um pouco e curtir a cidade maravilhosa. E então, haja cinema, teatro, praias, lugares, até me apaixonar irremediavelmente pela cidade. A ponto de três anos depois, arrumar os badulaques, tomar um avião da Cruzeiro do Sul, para lá no sul ir morar. E por lá, fiquei trinta anos, mesmo sem Lia ou Raquel.

- Ô xente! Agora virou cabra da peste.

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