quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Do meu “Baú de letras”
Um dia desses me perguntaram quem eu era. E eu não soube dizer quem sou. Sei que sou, mas não sei dizer quem sou. Sou.
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Pegando, casualmente, na minha estante, o “Perto do Coração Selvagem”, de Clarice Lispector, lá está na página número 21:  “É curioso como não sei dizer quem sou”. Eco?
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Enquanto envelhecemos nossos amigos mortos permanecem com a mesma idade em nossas lembranças. Só os vivos envelhecem.
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Um livro tem tantos autores quantos forem os seus leitores. Ninguém lê o livro que o autor escreveu.
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Quantos seriamos se todos os nossos amigos resolvessem escrever nossa biografia                              
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                  O treinador agarrou o atleta pela cintura, deu o impulso e ele ergueu os braços, agarrou as argolas e crucificou-se no ar.
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Aprendi que, Bashô, o nome do fixador da  moderna forma do haikai, significa: “bananeira”. A bananeira é uma árvore estranha. Só dá um cacho de cada vez. Cortada. Renasce do próprio tronco. É assim o haikai, nascido do tronco de um tanka?
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É difícil traduzir em palavras o significado de um olhar.
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              Quando me sinto solitário pego um livro e povoo a minha solidão.

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               Tudo que havia de bom em ti,  recolhi como acervo em mim.

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        Aos noventa e tantos, quem é antigo para mim?

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Se os meninos de quatro ou cinco anos já se comunicam virtualmente e eu ainda estou aprendendo, quem é mais novo? Eles ou eu? Se eles já são senhors eu ainda sou junior?

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Eu gostaria muito de entrar pela porta estreita, mas, quem tem a chave?

sábado, 6 de setembro de 2014




Nunca tinha ouvido falar em Nicanor Segundo Parrra Sandoval, mais conhecido como Nicanor Parra, nascido em 5 de setembro de 1914, no povoado chileno de San Fabian, morando atualmente em Las Cruzes, a cerca de 100km de Santiago, com vista para o Oceano Pacifico. Que belo, que deve ser!

E sim de sua irmã, Violeta Parra, cantora e compositora, de quem muito se falou e ouviu nos anos da música de protesto. Quem de certa idade não lembra de seus dois grandes hits na voz de Mercedes Sosa: “Volver a los 17” ou “Gracias a la vida”? Que me há dado tanto, digo eu.

Pois é, diz a reportagem, de duas páginas de o Globo, de 7 junho, que ele é o poeta maior do Chile, várias vezes cotado para o Nobel, e que o país se prepara para oferecer-lhe uma grande festa, em setembro próximo, para comemorar o seu centenário.

A certa altura da entrevista, que ele diz não costuma dar,  informou ao repórter Guilherme Freitas, (enviado especial a Las Cruces, para entrevista-lo), que: “A grande questão da literatura é: como fazer uma frase? Parei de escrever quando percebi que nenhum poema se compara às frases de uma criança. Agora o que faço é anotar o que elas dizem.”

Nem acabei de ler esse trecho da entrevista e fui logo ligar o computador e digitar no Google o nome de Pedro Bloch, médico, fonoaudiólogo, teatrólogo, jornalista e escritor, ucraniano, naturalizado brasileiro que nos anos 50 fazia grande sucesso com suas peças: “Dona Xepa” e “As mãos de Eurídice”, monólogo representado por Rodolfo Meyer.

Não sei se é exagero do informador, mas, ele diz que o ator o representou esse monólogo três mil vezes, que a ele foi levada ao palco em quarenta e cinco países, com oitocentas mil representações mundiais e que no Reino Unido foi produzida por ninguém menos que Sir Sean Conery, o grande interprete dos primeiros 007.

Pois bem, Pedro Bloch não parou de escrever, mas no seu consultório, começou a registrar frases ou intervenções de crianças e publicou vários livros, contendo esses registros. Fez muito sucesso, na época. Também me lembrei de Picasso, que teria dito que levou “toda a vida aprendendo a pintar como uma criança”. Aprendeu?

Parabéns a Nicanor, parabéns ao Chile, que sabe referenciar seus poetas, a quem, agora,  ofereço a estrofe final de Gracias ha la vida”:

“ ...............................................................
Gracias a vida, que mi ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los materiales que formam mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto

Y el canto de todos que es mi proprio canto”.

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