domingo, 5 de fevereiro de 2017




Mestre Aurélio diz que religião é a crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais, considerada(s) como criadora(s) do Universo e que como tal deve(m) ser adorada(s)e obedecida(s). A manifestação de tal crença por meio de doutrina e ritual próprios que envolvem, em geral, preceitos éticos.
Examinando esta definição e me pensando, chego a conclusão que não tenho crença, doutrina, ritual e quem sabe (?) princípios éticos. Nasci numa família que oscilava entre a Igreja e o Espiritismo. Batizei-me, ou melhor batizaram-me, fiz primeira comunhão e nunca mais pratiquei o que o catecismo naquela época, pregava. Esqueci.
 Não obstante, se tivesse que escolher uma religião escolheria a católica apostólica romana. Porque? Pela teatralidade. O ritual. Quanto mais secular melhor. Missa em latim. Mesmo sem saber latim. Mistério. Teria vindo daí o meu gosto pelo teatro? Talvez.
Essa religião é responsável por sons e imagens que moram dentro de mim desde a infância. Nessa época, o catolicismo brasileiro se manifestava em dois espaços: nas residências particulares (capelas e oratórios; terços e novenas) e nas igrejas (missas, batizados, casamentos e procissões).
Na casa da fazenda dos meus avós havia um quarto que servia de capela. No oratório os santos da devoção dos donos da casa. Lembro-me das novenas de maio e dezembro. A coroação. Os anjos. Uma das minhas tias, como corifeu, tirando o terço: “Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo” e o resto da família, em coro, ajoelhada, respondendo: “Para sempre seja Louvado”. O som murmurante desse responso nunca saiu dos meus ouvidos. Virá daí o gosto pelos corais? Talvez.
 A visão de um grupo de beneditinos numa cerimônia de Vésperas, no Convento de São Bento, no Rio de Janeiro, nunca se apagou da minha mente. E as missas? Do Galo. De Aleluia. E as cerimônias da Semana Santa com as Trevas, os Lava-pés, as Procissões do Senhor Morto e a voz das Verônicas nas tardes mormacentas de Manaus. O que eu esperava mesmo era um momento de desenrolar do Sudário.
 Quanto mais vaticana for a representação mais será do meu agrado. Papal. Ora si. Para mim o cantochão é só música; a Bíblia, só literatura. Como se vê, confundi religião com a arte. E em vez da salvação, procuro a emoção. Principalmente, libertação. Catarse? Em vez de optar pelos pobres, optei pelas pompas. Serei perdoado?



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