sábado, 20 de junho de 2015



                               SÃO JOÃO

   As festas juninas sempre fizeram parte da minha infância e da minha adolescência. Na infância, na Fazenda, as festas eram comandadas por tia Isaura. A tia festeira. Ela providenciava a fogueira, o pau-de-cebo, o aluá, a gengibirra, os bolos de macaxeira, os pés-de-moleque, o munguzá, a pamonha, a cangica, o milho cozido ou assado... e não se esquecia do espetáculo. Ela mesma confeccionava as fantasias de chita e a maquiagem feita com papel crepom vermelho umedecido água. O violão e a rabeca acompanhavam os cânticos previamente ensaiados.

Já na cidade, quem comandava a festa era meu pai. Era a festa que ele mais gostava. Ele se divertia e nos divertia destribuindo fogos: estrelinhas, bombinhas, para as crianças, busca-pés e rojões para os adultos. As fogueiras eram acesas nas ruas e delas participava toda a vizinhança. Era frequente ouvir-se alguém convidando alguém:
- Vamos passar de fogueira?
- De primo?
- Não, de compadre?

E lá se ia o parentesco aumentando. As vezes pra valer. E ninguém tinha vergonha de, ao se encontrarem, invocar o parentesco ou pedir a benção:
- Bença, madrinha!
- Deus te dê juízo!

O momento preferido das mulheres era o das adivinhações, mas ninguém se fazia de rogado. Lembro-me de algumas: faca nova enterrada no tronco de bananeira revelaria, no dia seguinte, o nome do eleito ou eleita; clara de ovo dentro de um copo d´água desenharia a imagem do pedido; o rosto refletido ou não numa bacia cheia d´água, a meia-noite, diria se o curioso ou curiosa chegaria ou não ao ano seguinte. As vezes, tanto no copo, como na bacia d´água, a clara de ovo esculpia-seu um barco a vela, singrando rios ou mares sonhados ou desejados.

O momento culminante da festa era a chegada do boi-bumbá. A primeira vez que vi um, tive medo. As famílias contratavam o boi para dançar na frente de suas casas. Havia bois famosos: Boi Estrela, Corre Campo, Caprichoso... Com o tempo fui me acostumando. E passei a admirar o colorido das fantasias das personagens (o boi-bumbá é um auto), bordadas de lantejoulas, o veludo macio do corpo do animal, as fitas de diversas cores evoluindo ao som dos cânticos e das danças características.

O interesse da família pelas festas juninas talvez viesse do fato de que meu avô fazia aniversário no dia treze de junho e chamava-se Antônio, minha avó era do dia vinte e seis e chamava-se Joana e um dos tios mais chegado chamava-se Pedro. Todos do lado materno. Hoje, como diria Manuel Bandeira em seu famoso poema:
             “Estão todos dormindo
               Estão todos deitados
               Dormindo
               Profundamente.”  


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