sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019


Visita Inesperada

Quando Cidamar chegou, de manhã, encontrou no corredor do apartamento um jovem gavião, a lhe olhar. Cidamar ofereceu-lhe o dedo e ele não se fez de rogado. Aceitou e entraram no apartamento, como se fossem velhos conhecidos. Fui-lhe apresentado. Ele me olhou e num leve arremesso pousou no encosto da poltrona e continuou a nos fitar. Seus olhos tinham uma tonalidade amarelada e me pareciam tristes. De que estaria fugindo: filho rebelde, ânsia de liberdade, penas de amor ou fome?
Nunca tinha visto um gavião de perto. Fui até o quarto, peguei a máquina fotográfica e fiz algumas fotos. Não se recusou. Posou. Abriu as asas, movimentou-se, exibiu a estampa de suas penas, como se fosse um modelo. Ele não crocitou uma vez, sequer. Como não tinha nada a oferecer-lhe, disse a Cidamar para colocá-lo na grade da janela para ele ir-se. Recusou. Não foi. Então Cidamar levou-o até o corredor e colocou-o no parapeito, aí, sim, ele bateu asas e voou.
Que bicho é esse? Intrigado, fui ao dicionário e ele me informou que se trata de uma ave de rapina diurna, da família dos Acipitrídios ou dos Falconídeos, que, em sua maioria, se alimentam de presas vivas ou de animais mortos. Olha só o perigo. É nome também de uma tribo indígena. E tem várias denominações. Contei, no Houaiss, cinquenta e três. Eis algumas: gavião azul, gavião caipira, gavião-do-mar, gavião-real, gavião rapina... é também, vejam só, indivíduo esperto, ladino, conquistador. Mereceu até um samba de Pixinguinha: Gavião Calçudo (1929):
“Quem tiver mulher bonita
Esconda do gavião
Ele tem unha comprida
Deixa os maridos na mão                     

Mas viva quem é solteiro
Não tem amor nem paixão
Mas vocês que são casados
Cuidado com o gavião”

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