segunda-feira, 7 de agosto de 2017


QUERMESSES


Os contos de Lygia Fagundes Telles falam muito do cotidiano. Em “Noturno Amarelo”, por exemplo, há um personagem, que está se preparando para ir a uma quermesse, onde as tias são barraqueiras. Imediatamente me lembrei das décadas de trinta e quarenta, do século passado, em Manaus, onde nos meses de dezembro, durante os festejos da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, também havia  quermesses.
     
O que eram as quermesses? Eram festas que os paroquianos organizavam no adro das igrejas para arrecadar dinheiro para as paróquias. Armavam-se barracas para vender, rifar, leiloar prendas ou guloseimas, oferecidas pelos paroquianos. Aconteciam ao anoitecer, durante o novenário. Os leilões eram quase sempre feitos por pessoas divertidas e por isso muito concorridos.
     
Havia também barracas de jogos: tiro ao alvo, arco e flexa e pontaria, que consistia em atirar um aro para que ele caísse sobre um dos pinos metálicos espalhados num retângulo delimitado, os vencedores ganhavam prêmios. Bonecos, enlatados, brinquedos ou vidros de perfumes baratos ou latinhas de brilhantina. Conforme fosse o vencedor: marmanjo ou menino. Pois o espaço era quase sempre um clube de bolinhas.

   Mas as meninas também tinham as suas tarefas: vender prendas mais delicadas, como flores, que com um pregador colocavam nas lapelas dos paletós ou no peito das camisas dos rapazes. E eram nessas ocasiões que os olhares se cruzavam ou algum recado se confirmava, com o beneplácido das mães, que não os viam ou ouviam, mas tinham certeza que suas filhinhas estavam fazendo uma obra beneficente.
     
Eu ia sempre, pois minhas irmãs eram filhas de Maria. Mas não ficava preso as suas saias. Gostava de andar dum lado para o outro. Vendo tudo, comendo de tudo: bolo de milho, bolo de macaxeira, bolo de carimã, bebendo guaraná, ralarala, tacacá,  munguzá...provando de cada um a cada noite. Gostava principalmente de subir e descer correndo as escadarias da Matriz. Suando em bicas pois, no mês de dezembro o calor lá é “amazônico”.
      
Mas o que não podia faltar na quermesse eram as marchas, xotes e dobrados da Banda de Música da Polícia. Bonito mesmo eram as valsas vienenses, como vim saber mais tarde: Danúbio Azul, Contos dos Bosques de Viena... Ao ouvi-las minha cabeça ficava rodopiando, rodopiando... Havia até alguns desinibidos que saiam aos pares volteando, volteando, num verdadeiro vai da valsa. E como iam! Bons tempos, bons tempos aqueles, como diria hoje o Chico Buarque, bons tempos.

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