2016/2017
Não me lembro das passagens de ano, em
Manaus, quando era jovem. Comecei a notá-las, quando mudei pra o Rio de Janeiro,
no fim dos anos quarenta. Era mais pé no chão, ou melhor, na areia. Não tinha a
parafernália que tem hoje. Fogos no meio da baía, palcos para shows e outras
"mumunhas", como diria a saudosa Araci.
No começo, décadas de cinquenta, sessenta,
setenta, ainda podia-se flanar pelas ruas do Rio, sozinho, durante a noite. A
marginalidade era pontual. Copacabana e o Centro da cidade eram os palcos de
todos os entretenimentos, de então.
O meu prazer, mesmo, na noite da virada
(como se diz hoje) era caminhar pela praia, as vezes descalço, apreciando e
recebendo passes de pais ou mães de santo, em plena praia, ao murmúrio do mar.
Os altares eram grandes cavidades na areia, onde, protegidas do vento, se
colocavam as imagens de Iemanjá, a rainha da festa, rodeada de lírios e velas.
Toda a praia era um imenso baixo relevo dedicado a Deusa.
Ao se aproximar da meia noite, as charangas
começavam a tocar, os tambores a ruflar, os fogos desciam em cascata do topo do
Hotel Mediterané e todo mundo de branco começava a cantar, se abraçar e se
beijar, numa tristeza de adeuses pelo ano que morria e de alegria pelo que nascia,
ao som daquele enorme coral. Era como no samba-choro de Assis Valente, de 1938,
cantado por Carmem Miranda:
“beijei
na boca de quem não devia
peguei
na mão de quem não conhecia
dancei
um samba em traje de maiô
e o tal
do mundo não se acabou ."
Mas, ontem como hoje, o meu desejo mesmo é
que todos tenham um feliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiz e próspero - 2017.
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