terça-feira, 5 de junho de 2018


Educação

Tia Isaura servia de professora as crianças que circundavam a casa: filhos dos trabalhadores e sobrinhos. De ambos os sexos. Meus avós mal sabiam assinar os nomes, mas construíram um grande patrimônio, que os filhos alfabetizados, não quiseram ou souberam cuidar. Não lembro de ter participado regularmente de suas aulas, mas com certeza me alfabetizei vendo e ouvindo o bê-a-bá ensinado aos outros. Pois quando fui para cidade já sabia ler.
 O ensino era cantado. Os livros eram a cartilha e a taboada. Havia também um caderno de caligrafia. Todas as letras dos adultos se pareciam. Tia Isaura não era formada e como constatei mais tarde, era apenas alfabetizada. Mas representou um grande papel: ensinou a ler e escrever a muita gente. O depois era com cada um.
O método usado era leitura em voz alta, ditado e cópia. A taboada era tomada com os alunos de pé em círculo. Havia castigo: a palmatória. Quem respondesse errado levava bolo. Os erros de texto eram reescritos até acertar.
Ela não falava, gritava. De longe podia-se ouvir seus gritos: um mais um; seis vezes quatro; oito menos cinco... Embora eu ficasse isento de tudo: exercícios e castigos, na hora da taboada eu tremia de medo, ouvindo o estalido da palmatória nas mãos dos meninos. Resultado: ignoro as famosas quatro operações até hoje. A leitura, o ditado e a cópia eu tirava de letra. Sem obrigatoriedade, é claro. Eu era um espécie de senhorzinho. Só fazia o que queria. Deu nisso.
Entre Manaus e Itacoatiara, havia um simulacro de escola pública, num lugar chamado Colônia, onde também havia uma Agência de Correio, cuja representante era uma senhora chamada Zinha, mulher de meu tio Rogério. Mas era muito longe. O transporte, é claro, era canoa. Levava algumas horas de viagem da fazenda até lá. Educação era supérfluo ou luxo. Mudou muito?

Um comentário:

  1. De fato, ressalvada a palmatória, o resto eu peguei: os verbos recitados em voz alta, os textos ditados (ou gritados) pelas mestras e a cópia de recortes de boa literatura. Aprendíamos a ler e a contar. Números histórias. Bons tempos.

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