sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018




O rio

 Thiago de Melo tem um livro sobre a amazônia, cujo título é “Pátria da Água”. Creio que é verdade, com relação ao estado do Amazonas. Só nessa chamada fazenda de meu avô, tínhamos nos arredores da casa: o rio imenso, um pequeno lago e um igapó. Mas era o rio que comandava a vida, como bem dizia Leandro Tocantins.
Era do rio que se tirava o principal alimento: o peixe; era no rio que se fazia a higiene corporal: o banho; era pelo rio que se comunicavam com o mundo: o navio; era pelo rio que as pessoas adquiriam o necessário e o supérfluo: o comércio. Os navios e as lanchas: o transporte coletivo; a canoa: o transporte individual; e o batelão: a loja e bodega flutuantes. Reduto dos “turcos” como eram chamados os judeus, os sírios e os libaneses, que frequentemente exerciam esse comércio.
O banheiro era um quadrado de tábua flutuante, com paredes de japá. O nado não era frequente. Na enchente, o perigo maior era a correnteza e os redemoinhos; na vazante, entre outros as arraias com seu mimetismo e seus terríveis esporões; em qualquer tempo, os duendes com seus encantos e magias.
Na época das cheias ou vazantes, não sei mais precisar, observava-se um dos mais belos fenômenos naturais: a migração dos pássaros. Nuvens de patos selvagens, cruzando o rio em busca de ambientes mais propícios. As árvores perto da casa ficavam cheias de papagaios e periquitos ao anoitecer e que meu tio Alberto gostava de espantar de manhã cedo, com um tiro de espingarda. O barulho era ensurdecedor. Mas era um espetáculo de cor, som e movimento, inusitado. Inesquecível.
No rio, os fenômenos visíveis e audíveis: os troncos ou árvores inteiras de bobuia levados pela correnteza, como se fossem ilhas flutuantes; o som das terras caídas, do lado direito do rio, como verdadeiros trovões, assustavam. Fora os bichos: jacarés, cobras e certas espécies de peixes, como: os candirus, as piranhas e os puraqués. Isso era mais perigoso porém para os animais, que pastavam as margens dos igapós, lagos e rios. Pois durante todo o tempo que vivi lá, nunca soube de casos desse tipo com humanos.

Um comentário:

  1. Belíssima evocação do rio! A natureza ainda se impondo ao homem, o que me parece fazer a floresta amazônica, apesar dos esforços destruidores. Mande mais! (Isto vai virar um livro, veja lá!)

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