quinta-feira, 22 de junho de 2017


FLORES PARA LOS MUERTOS


Há muitos, muitos anos, para falar a verdade,  no século passado,comecei (mas, como  sempre, não terminei)  um curso de espanhol, no Instituto Brasileño de Cultura Espanica, no Rio de Janeiro, na rua Álvaro Alvim,  ao lado do Teatro Dulcina. A professora, Emília Navarro era, como na marchinha de João de Barros, natural da Catalunha. Diziam no curso que ela era uma autoridade em Cervantes. Quando algum intelectual brasileiro precisava de qualquer informação sobre o cavalheiro da triste figura, era a ela que procuravam. O que me parecia era que ela sabia tudo, mas tudo mesmo, sobre literatura de língua espanhola.

Foi por causa dela que li alguns autores de Espanha e espanamérica. Os poetas sobretudo me encantaram com seus ritmos de tons fortes, dramáticos, declamatórios. Alguns desses versos ficaram-me martelando na cabeça até agora, mais de meio século depois. Por exemplo, estes que não consigo me lembrar de quem são:
             
               “Mamita, yo quiero um barco
                No me lo niegues a mi.”

A imprecação dessa criança pedindo um barco a sua mãe marcou-me profundamente. Eu que sempre achei que “navegar é preciso.”
       
Nunca fui cavaleiro, mas acho que um dos animais mais bonito e  elegante é – o cavalo. Não poderia deixar de admirar estes versos do poeta colombiano, José Santos Chocano:

           “Los caballos eran fuertes!
            Los caballos eran agiles!
            Sus pescuezos eran finos y sus ancas
            Relucientes y sus cascos musicales...

            Los caballos eran fuertes!
            Los caballos eran agiles!

Ou a voz meio rouca e meio máscula de Emília dizendo excertos do dramático poema de Federico Garcia Lorca, “ Llanto por Ignácio Sánchez Mejías”

         “Cuando el sudor de nieve fue llegando
          A las cinco de la tarde
          La muerte puso huevos em su herida
          A las cinco de la tarde.
          A las cinco em punto de la tarde.”

Mas a expressão espanhola que mais me marcou mesmo,  foi a de uma personagem da peça de Tennesse Williams – “Uma rua chamada pecado”. É apenas uma figurante. Uma velha atriz, talvez contratada na Casa dos Artistas, para faturar um pequeno cachê. Mas que atriz! E o papel dela é apenas este: passar em frente a casa da perturbada Blanche Du Bois, oferecendo:

              “Flores para los muertos.
              Flores para los muertos.”

Pena que não tenha guardado também o nome dessa extraordinária atriz. Que há tantos anos depois ainda enche os meus ouvidos com a sua voz clara, serena, antecipando com seu timming dramático o destino da Bu Bois, uma metáfora para o destino de todos nós “Flores para los muertos...”

Um comentário:

  1. Um dos mais belos filmes de Brando amparado pelo Tenesse. Mas a expressão lembrada é um registro dramático dos melhores.
    Flores para nosostros. HB

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