SÁBADOS DE POESIA
Quando
comecei a frequentar a escola, em Manaus, aos oito anos de idade, já sabia ler
e escrever regularmente. Nesse tempo, a alfabetização, de um modo geral, era
feita por professoras que mantinham em suas casas cursos para essa finalidade.
Ou em casa, com algum familiar. Meu caso.
O ensino era
dividido em primário, secundário e superior. A língua portuguesa era ensinada
no primário e no secundário por um só professor: gramática, leitura e redação.
Os livros traziam textos dos grandes escritores portugueses e brasileiros que
eram lidos em voz alta e dos quais eram feitos ditados. Aos sábados, havia
sabatina ora de verbos ora de tabuada, apanhei muito nestas, pois as sabatinas
eram acompanhadas pelo som das palmatórias.
Fiz esses
cursos em três escolas: Liceu Sarmento (que fechou no fim do ano que eu
entrei), Colégio Rayol e Instituto Universitário Amazonense. Mensalmente havia prova de redação: narração,
descrição ou dissertação. Algumas vezes, eram apresentados quadros (creio que
de pintores famosos) para que os interpretássemos por escrito. Os três melhores trabalhos eram lidos para a
classe pelo autor...
Em sábados,
predeterminados, tínhamos que recitar uma poesia, de cor, em pé, diante de toda
a classe e professores. Eu era (era?) muito tímido e isso era um suplício para
mim. Mas era um suplício prazeroso, pois esperava esses sábados com certa
ansiedade. Há dias, conversando com um amigo sobre nossas experiências
escolares, ele perguntou se ainda me lembrava de algumas dessas poesias. Sim.
Não de cor, é claro. Sempre fui de muitas lembranças e pouca memória. E isso
são fatos do século passado, imagina!
Eu sempre dizia os sonetos: “Visita a casa
paterna”, de Luis Guimarães Júnior e “O Acendedor de Lampiões”, de Jorge de
Lima, até ser criticado publicamente por um professor. Daí então emudeci.
Detalhe: ai daquele que não soubesse o nome do autor. A que eu mais gostava era, na verdade, o soneto de Jorge de Lima: O
Acendedor de lampiões de ruas:
Lá vem o
acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo
que vem infatigavelmente,
Parodiar o
sol e associar-se à lua
Quando a
sombra da noite enegrece o poente!
Um, dois,
três lampiões, acende e continua
Outros mais
a acender imperturbavelmente,
À medida que
a noite aos poucos se acentua
E a palidez
da lua apenas se pressente.
Triste
ironia atroz que o senso humano irrita: –
Ele que
doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não
tenha luz na choupana em que habita.
Tanta gente
também nos outros insinua
Crenças,
religiões, amor, felicidade,
Como este
acendedor de lampiões da rua!
Belíssima crônica seu Soeiro. Poética e evocativa com são certas esquinas do nosso Rio que já foi quatrocentão e avança, combalido, para o "quinhentão"!
ResponderExcluirPero, na minha ignorância pergunto: de quem são os versos finais? Do Tom?
O comentário anterioré meu seu Soeiro. Helio Brasil (don't forgetme)
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