QUERMESSES
Os contos de Lygia Fagundes Telles falam
muito do cotidiano. Em “Noturno Amarelo”, por exemplo, há um personagem, que
está se preparando para ir a uma quermesse, onde as tias são barraqueiras.
Imediatamente me lembrei das décadas de trinta e quarenta, do século passado,
em Manaus, onde nos meses de dezembro, durante os festejos da padroeira da
cidade, Nossa Senhora da Conceição, também havia quermesses.
O que eram as quermesses? Eram festas que os
paroquianos organizavam no adro das igrejas para arrecadar dinheiro para as
paróquias. Armavam-se barracas para vender, rifar, leiloar prendas ou
guloseimas, oferecidas pelos paroquianos. Aconteciam ao anoitecer, durante o
novenário. Os leilões eram quase sempre feitos por pessoas divertidas e por
isso muito concorridos.
Havia também barracas de jogos: tiro ao alvo,
arco e flexa e pontaria, que consistia em atirar um aro para que ele caísse
sobre um dos pinos metálicos espalhados num retângulo delimitado, os vencedores
ganhavam prêmios. Bonecos, enlatados, brinquedos ou vidros de perfumes baratos
ou latinhas de brilhantina. Conforme fosse o vencedor: marmanjo ou menino. Pois
o espaço era quase sempre um clube de bolinhas.
Mas
as meninas também tinham as suas tarefas: vender prendas mais delicadas, como
flores, que com um pregador colocavam nas lapelas dos paletós ou no peito das
camisas dos rapazes. E eram nessas ocasiões que os olhares se cruzavam ou algum
recado se confirmava, com o beneplácido das mães, que não os viam ou ouviam,
mas tinham certeza que suas filhinhas estavam fazendo uma obra beneficente.
Eu ia sempre, pois minhas irmãs eram filhas
de Maria. Mas não ficava preso as suas saias. Gostava de andar dum lado para o
outro. Vendo tudo, comendo de tudo: bolo de milho, bolo de macaxeira, bolo de
carimã, bebendo guaraná, ralarala, tacacá,
munguzá...provando de cada um a cada noite. Gostava principalmente de
subir e descer correndo as escadarias da Matriz. Suando em bicas pois, no mês
de dezembro o calor lá é “amazônico”.
Mas o que não podia faltar na quermesse eram
as marchas, xotes e dobrados da Banda de Música da Polícia. Bonito mesmo eram
as valsas vienenses, como vim saber mais tarde: Danúbio Azul, Contos dos
Bosques de Viena... Ao ouvi-las minha cabeça ficava rodopiando, rodopiando...
Havia até alguns desinibidos que saiam aos pares volteando, volteando, num
verdadeiro vai da valsa. E como iam! Bons tempos, bons tempos aqueles, como
diria hoje o Chico Buarque, bons tempos.
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