FLORES PARA LOS MUERTOS
Há muitos, muitos anos, para falar a verdade, no século passado,comecei (mas, como sempre, não terminei) um curso de espanhol, no Instituto Brasileño
de Cultura Espanica, no Rio de Janeiro, na rua Álvaro Alvim, ao lado do Teatro Dulcina. A professora,
Emília Navarro era, como na marchinha de João de Barros, natural da Catalunha.
Diziam no curso que ela era uma autoridade em Cervantes. Quando algum
intelectual brasileiro precisava de qualquer informação sobre o cavalheiro da
triste figura, era a ela que procuravam. O que me parecia era que ela sabia
tudo, mas tudo mesmo, sobre literatura de língua espanhola.
Foi por causa dela que li alguns autores de Espanha e espanamérica.
Os poetas sobretudo me encantaram com seus ritmos de tons fortes, dramáticos,
declamatórios. Alguns desses versos ficaram-me martelando na cabeça até agora, mais
de meio século depois. Por exemplo, estes que não consigo me lembrar de quem
são:
“Mamita, yo
quiero um barco
No me lo
niegues a mi.”
A imprecação dessa criança pedindo um barco a sua mãe marcou-me
profundamente. Eu que sempre achei que “navegar é preciso.”
Nunca fui cavaleiro, mas acho que um dos animais mais bonito
e elegante é – o cavalo. Não poderia
deixar de admirar estes versos do poeta colombiano, José Santos Chocano:
“Los caballos
eran fuertes!
Los caballos
eran agiles!
Sus pescuezos
eran finos y sus ancas
Relucientes y
sus cascos musicales...
Los caballos
eran fuertes!
Los caballos
eran agiles!
Ou a voz meio rouca e meio máscula de Emília dizendo excertos do
dramático poema de Federico Garcia Lorca, “ Llanto por Ignácio Sánchez Mejías”
“Cuando el sudor de
nieve fue llegando
A las cinco de la
tarde
La muerte puso
huevos em su herida
A las cinco de la
tarde.
A las cinco em
punto de la tarde.”
Mas a expressão espanhola que mais me marcou mesmo, foi a de uma personagem da peça de Tennesse
Williams – “Uma rua chamada pecado”. É apenas uma figurante. Uma velha atriz,
talvez contratada na Casa dos Artistas, para faturar um pequeno cachê. Mas que
atriz! E o papel dela é apenas este: passar em frente a casa da perturbada
Blanche Du Bois, oferecendo:
“Flores para
los muertos.
Flores para los muertos.”
Pena que não tenha guardado também o nome
dessa extraordinária atriz. Que há tantos anos depois ainda enche os meus
ouvidos com a sua voz clara, serena, antecipando com seu timming dramático o
destino da Bu Bois, uma metáfora para o destino de todos nós “Flores para los
muertos...”
Um dos mais belos filmes de Brando amparado pelo Tenesse. Mas a expressão lembrada é um registro dramático dos melhores.
ResponderExcluirFlores para nosostros. HB