VENTO LOUCO, VENTO LOUCO
O que é o vento? Diz o
dicionário, que é ar em movimento. Corrente de ar resultante de diferenças de
pressão atmosférica, provocadas, na maioria dos casos, por variações de
temperatura. E que existem ventos gerais e locais. Os gerais são os alísios,
soprando periodicamente das regiões temperadas para a região equatorial; e
monções, soprando regularmente em determinada direção, numa estação do ano, e
em sentido contrário noutra época do mesmo ano. Os locais são muitos. Registrei
apenas aqueles que a literatura me apresentou e praticamente os transformou em
personagem, como: o frio mistral francês; o terreal que sopra da terra para o
mar; o simum, quente e abrasador na África do norte; o siroco, aquecendo o
mediterrâneo; e o cortante minuano, que me fazia tremer de frio, lendo os
romances de Érico Veríssimo, em Manaus ou a lembrança de minha mãe nos dias de
ventania, segurando a saia e andando pela casa, exclamando para si mesma: vento
louco, vento louco...
A simples mensão da palavra, vento, me lembra logo o mar, ondas,
marés, jangadas e barcos a vela. É lírico e trágico, de vez em quando. Ele é
sempre matéria de poesia. Está frequentemente presente em Cecília, em Quintana
e até em Thiago de Mello, que tem uma coleção de seus poemas intitulada – “Ventos
Gerais”, e nela um poema chamado, “Barcos e ventos” que por muito bonito
transcrevo:
Estimo o velejar fácil
de barca singrando o rio
sem qualquer ânsia de porto.
No singrar já se compraz.
Além do singrar, desejo
ouvir o rumor do vento
que agita o mar e saber
a que rumo ele me impele.
Ai, triste é ser como búzio
que, fabulário, resguarda
em seu côncavo o murmúrio
do mar a que pertenceu,
no entanto jamais se escuta.
Mas, a que vem toda essa lenga lenga sobre ventos? Claro, os que
sopram nesses “bros” sobre Fortaleza. Dizem as autoridades que eles têm uma
velocidade média de 28 quilômetros, com rajadas de até 70 quilômetros por hora,
amenizando o calor, mas provocando muitos incêndios. Antes, havia também as
"chuvas do caju”. Porque se acabaram? Esse vento de setembro, outubro e
novembro, que parece não ter sido batizado ainda, só serve para derrubar no
nascedouro, mangas e maturis e assustar os velhinhos em suas tocas. Ele surra
tão forte as janelas do meu apartamento e urra tanto em suas frestas, que até já o apelidei de
“apartamento dos ventos uivantes”, com o perdão, é claro, de Emily Brontë.
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