Meu caro Aniel:
Há vários dias que
estou pensando em escrever para você, mas na hora de enfrentar o computador dá
um desânimo. É que geralmente acontece depois de ver um jornal televisivo e o
que se vê e ouve sobre o Brasil e o mundo é de estarrecer. Fico triste, sabe.
No Brasil o que mais se ouve nesses últimos dez ou mais anos são dois palavrões.
mensalão e petrolão. E os seus consequentes: lavagem de dinheiro, formação de
quadrilha, propina... e advogados, juízes, industriais, políticos algemados, colocados
no porta mala de carros de polícia, enfim...
A quantidade de
dinheiro surripiado é tão grande que se cobrada creio que daria para pagar a dívida
pública brasileira. O principal fator do fracasso da economia brasileira,
segundo ouço da maioria dos economistas entrevistados. Nunca imaginei que o
Brasil tivesse tanto dinheiro em cofres particulares. Mama mia! E se não
bastasse, vem agora o escândalo internacional da Fifa. Já imaginou quando
começarem a fazer auditorias nas federações, clubes, na compra e venda de
jogadores brasileiros?
Mas, vamos ao que nos
interessa, literatura: acabo de ler uma antologia de poemas da russa Anna
Akhmátova, organizada e traduzida do russo por Lauro Machado Coelho. Já a
conhecia da leitura de poemas publicados em suplementos de jornais. O meu
interesse, hoje, está na apresentação feita pelo tradutor. Lá pelas tantas,
depois de falar sobre a sua poesia e o seu meio intelectual, o que ele conta me
deu calafrios. Ele diz que todos os contemporâneos dela tiveram um fim trágico
e dá alguns exemplos: Marina Tsvietaieva, Essênin, Maiakóvski,, Isaac Bábel,
Borís Pilniák, Vladímir Nárbut, -Ossip Mandelshtám, Nicolái Zabolóstski, Damil
Kharms e outros ou suicidaram-se ou desapareceram em campos de concentração.
Ela própria foi “perseguida
pelas autoridades stalinistas, que além de proibiram-na de publicar seus
trabalhos, teve de enfrentar o fuzilamento de seu primeiro marido, a morte do
terceiro, num campo de concentração e a terrível angústia de ver o filho preso,
sem causa comprovada. Conhecemos um pouco dessa histeria, aqui. O que me agrada
nessa poeta é o tom intimista da sua poesia. Exemplo: “ O rei de olhos
cinzentos
Glória a ti, inconsolável dor!
Ontem morreu o rei de olhos
cinzentos.
A noite de outono era rubra e quente.
Meu marido, ao voltar, disse
baixinho:
“Sabe, trouxeram-no da caçada,
acharam o corpo lá no velho carvalho.
Que pena da rainha. Tão jovem!...
Numa noite só ficou grisalha”
Pegou o seu cachimbo na lareira
e lá se foi ele pro trabalho noturno.
Agora vou acorda minha filhinha
E olhar para seus olhinhos cinzentos.
Na janela, o álamo murmura:
“Teu rei já não é mais Este mundo”.
Diz o introdutor, que esse é um de
seus poemas mais populares. E que foi musicado por Serguêi Prokófiev. É também
um dos que mais gosto.
Um grande abraço, Alberto.
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