As festas juninas sempre fizeram parte da
minha infância e da minha adolescência. Na infância, na Fazenda, as festas eram
comandadas por tia Isaura. A tia festeira. Ela providenciava a fogueira, o
pau-de-cebo, o aluá, a gengibirra, os bolos de macaxeira, os pés-de-moleque, o
munguzá, a pamonha, a cangica, o milho cozido ou assado... e não se esquecia do
espetáculo. Ela mesma confeccionava as fantasias de chita e a maquiagem feita
com papel crepom vermelho umedecido água. O violão e a rabeca acompanhavam os
cânticos previamente ensaiados.
Já na
cidade, quem comandava a festa era meu pai. Era a festa que ele mais gostava.
Ele se divertia e nos divertia destribuindo fogos: estrelinhas, bombinhas, para
as crianças, busca-pés e rojões para os adultos. As fogueiras eram acesas nas
ruas e delas participava toda a vizinhança. Era frequente ouvir-se alguém
convidando alguém:
-
Vamos passar de fogueira?
- De
primo?
- Não,
de compadre?
E lá
se ia o parentesco aumentando. As vezes pra valer. E ninguém tinha vergonha de,
ao se encontrarem, invocar o parentesco ou pedir a benção:
-
Bença, madrinha!
- Deus
te dê juízo!
O
momento preferido das mulheres era o das adivinhações, mas ninguém se fazia de
rogado. Lembro-me de algumas: faca nova enterrada no tronco de bananeira revelaria,
no dia seguinte, o nome do eleito ou eleita; clara de ovo dentro de um copo
d´água desenharia a imagem do pedido; o rosto refletido ou não numa bacia cheia
d´água, a meia-noite, diria se o curioso ou curiosa chegaria ou não ao ano
seguinte. As vezes, tanto no copo, como na bacia d´água, a clara de ovo
esculpia-seu um barco a vela, singrando rios ou mares sonhados ou desejados.
O
momento culminante da festa era a chegada do boi-bumbá. A primeira vez que vi
um, tive medo. As famílias contratavam o boi para dançar na frente de suas
casas. Havia bois famosos: Boi Estrela, Corre Campo, Caprichoso... Com o tempo
fui me acostumando. E passei a admirar o colorido das fantasias das personagens
(o boi-bumbá é um auto), bordadas de lantejoulas, o veludo macio do corpo do
animal, as fitas de diversas cores evoluindo ao som dos cânticos e das danças
características.
O
interesse da família pelas festas juninas talvez viesse do fato de que meu avô
fazia aniversário no dia treze de junho e chamava-se Antônio, minha avó era do
dia vinte e seis e chamava-se Joana e um dos tios mais chegado chamava-se
Pedro. Todos do lado materno. Hoje, como diria Manuel Bandeira em seu famoso
poema:
“Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.”
Oi Alberto
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