sábado, 9 de maio de 2015


                          De guerreiro a turista


 Hoje, dia 7 de dezembro de 2014, pegando, por acaso, a história do Amazonas, de Aguinaldo Figueiredo, lá na página 140, ele faz um breve registro da participação do Amazonas, na Segunda Grande Guerra e leio que nesse dia, embarcavam no porto de Manaus, no navio “Cambrige”, 120 soldados do 27º Batalhão de Caçadores, rumo a Belém, do Pará, para se integrarem ao contingente paraense e de lá seguir para o Rio de Janeiro, a fim de fazer parte da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Pois, um desses cento e vinte era eu. Tinha esquecido completamente. Também, há a sessenta anos! Ele transcreve o depoimento do soldado Hilário Pimentel, que reproduzo em parte:

“Depois de 8 dias de viagem de Belém até o Rio de Janeiro, chegamos nesta cidade no navio “Cuiabá”, do Loyde Brasileiro, indo se aquartelar na Vila Militar do Realengo, onde fomos incorporados ao Regimento Sampaio...”.”Ficamos no Rio de Janeiro até o dia 14 de fevereiro de 1945, quando embarcamos de surpresa no navio de transporte militar “Comte. Mann”... “com destino a Nápoles, Itália, onde chegamos no dia 22 fevereiro de 1945, um dia após a tomada de  Monte Castelo por nossas tropas.”

A minha história  como expedicionário termina justamente na véspera do dia do embarque, no Rio de Janeiro. Era o terceiro e último escalão. Pois, a guerra terminou no dia 8 de maio, com a assinatura do armistício entre as potências envolvidas.  Não fui porque na véspera do embarque eu e mais dez soldados amanhecemos com a cara irreconhecivelmente inchada. Levados ao posto médico, recebemos o diagnóstico: caxumba. Dalí, fomos direto para o Hospital Militar, ala de incomunicáveis, pois a doença, na época, era considerada: contagiosa. Não sei se ainda é.

A princípio fiquei desolado. Meus amigos e companheiros tinham ido, todos. Só eu fiquei, entre milhares de outros soldados, desconhecidos. Depois de curado fui transferido para o Forte de Copacabana. Aguardar a baixa e voltar para Manaus. Como não dava serviço e fiquei sob as ordens de um oficial muito liberal, aproveitei o tempo para conhecer um pouco e curtir a cidade maravilhosa. E então, haja cinema, teatro, praias, lugares, até me apaixonar irremediavelmente pela cidade. A ponto de três anos depois, arrumar os badulaques, tomar um avião da Cruzeiro do Sul, para lá no sul ir morar. E por lá, fiquei trinta anos, mesmo sem Lia ou Raquel.

- Ô xente! Agora virou cabra da peste.

Um comentário:

  1. Pois é... como sempre, me atraso na "jogada". E tomara que este comentário chegue ao destino: aos olhos, aos ouvidos, ao coração do cronista. Para a minha desamparada "velhice informática" o blog chegaria a mim, até mesmo sem procurá-lo. Mas de fato é como estante de livraria: há que olhar, buscar, abrir, ler, experimentar. E gozar a beleza!
    Gostei das narrativas, todas, mesmo a já conhecida do guerreiro vencido pela prosaica caxumba. Das maravilhas, a ponte (o "não lugar" espacial - pois se v não é o engenheiro construtor ou o operário equilibrado em andaimes, só pára nas pontes para ver o "que não é ponte": a paisagem, o caminho, o abismo) sobre o rio Negro é talvez a que mais me tocou, além do Pobre Diabo.
    A revelação do lado "negro" (o termo é racista? Que besteira. Negro nele porque sem "LUZ")' do Borges, cego mas não insensível, sensível mas sem cordialidade... ou humanidade? Este senhor se julgava um super...?
    E o Pessoa que negou-se, por besteiras de crendices, a prosear em pessoa com nossa poeta Cecília.
    Agora, "pregunto": Why you didnt notice me about your e-posts? Please, Mr. Mumps' Warrior ? Traduza se for um amazônida1
    Abraços, encantado com as crônicas,
    Helio Brasil

    ResponderExcluir

Deixe aqui o seu nome e o seu comentário

Widget is loading comments...