domingo, 14 de dezembro de 2014

 


                                       Os gordinhos de Botero


Tenho uma amiga de que gosta muito de presentear. Para mim, é sempre livros. E sempre com  dedicatórias muito delicadas. O que é muito agradável, mas com o passar do tempo, embaraçoso. É o material que mais compro e que também mais me desfaço. Pois, morando num apartamento de uns sessenta metros quadrados, onde no fim de poucos anos iria guarda-los todos? No caso, o mais difícil é a dedicatória. Antes, eu arrancava a página, identificava-as e guardava-as. Mas depois o volume foi se acumulando e o jeito foi desfazer-me delas, também.

Aqui, em Fortaleza, é mais fácil. Tenho uma colega no Sarau do Beco, Rita de Cassia, que faz parte de um grupo de senhoras, que recolhem livros e montam bibliotecas em comunidades do interior do Estado e penitenciarias femininas. Preferia-os dar a amigos ou parentes que gostassem de ler, pois teria com quem comenta-los, mas infelizmente os mais próximos não gostam. Então, dos males o menor.

Mas, a que vem todo esse blá-blá? É que arrumando as sacolas para leva-los a minha amiga, topei com o livro/catálogo da exposição do pintor colombiano Fernando Botero, no MASP, em 1998, presenteado por essa amiga, e me lembrei que vi esculturas do pintor, nos jardins do castelo/museu de Ricardo Brennand, em Recife. São gordas e volumosas como as figuras de seus quadros. O curioso que é que em imaginava o autor também volumoso como seus personagens. A foto dele no catálogo me desenganou.

No catálogo, há uma entrevista em que ele conta o momento em que  descobriu o seu estilo (?). Transcrevo: “Naquela época meu interesse pelo volume estava dentro do sentimento italiano. Era lógico, havia amplidão no desenho e exuberância no contorno. Mas um dia, enquanto desenhava um Bandolim de rasgos generosos, no momento de fazer o buraco do instrumento, o fiz muito pequeno e o Bandolim adquiriu proporções fantásticas. Meu talento foi ter podido reconhecer que alguma coisa tinha acontecido. Depois desse Bandolim, meu mundo foi expandindo-se. Passei para as figuras e de repente fui criando um universo de formas grandes, que encontravam superlativo nos pequenos detalhes”.

Daí, os grandes corpos, com bocas, olhos, narizes, dedos extremamente pequenos para o tamanho das figuras. Que os torna inusitados. E bem originais. Há quem não goste. Os entendidos. Eu que não faço parte da inteligência, gosto. E que viva o gordo!



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