Os gordinhos de Botero
Tenho uma amiga de que
gosta muito de presentear. Para mim, é sempre livros. E sempre com dedicatórias muito delicadas. O que é muito
agradável, mas com o passar do tempo, embaraçoso. É o material que mais compro
e que também mais me desfaço. Pois, morando num apartamento de uns sessenta
metros quadrados, onde no fim de poucos anos iria guarda-los todos? No caso, o
mais difícil é a dedicatória. Antes, eu arrancava a página, identificava-as e
guardava-as. Mas depois o volume foi se acumulando e o jeito foi desfazer-me
delas, também.
Aqui, em Fortaleza, é
mais fácil. Tenho uma colega no Sarau do Beco, Rita de Cassia, que faz parte de
um grupo de senhoras, que recolhem livros e montam bibliotecas em comunidades
do interior do Estado e penitenciarias femininas. Preferia-os dar a amigos ou
parentes que gostassem de ler, pois teria com quem comenta-los, mas
infelizmente os mais próximos não gostam. Então, dos males o menor.
Mas, a que vem todo esse
blá-blá? É que arrumando as sacolas para leva-los a minha amiga, topei com o
livro/catálogo da exposição do pintor colombiano Fernando Botero, no MASP, em 1998, presenteado por essa amiga, e me lembrei que vi esculturas do
pintor, nos jardins do castelo/museu de Ricardo Brennand, em Recife. São gordas
e volumosas como as figuras de seus quadros. O curioso que é que em imaginava o
autor também volumoso como seus personagens. A foto dele no catálogo me
desenganou.
No catálogo, há uma
entrevista em que ele conta o momento em que descobriu o seu estilo (?). Transcrevo:
“Naquela época meu interesse pelo volume estava dentro do sentimento italiano.
Era lógico, havia amplidão no desenho e exuberância no contorno. Mas um dia,
enquanto desenhava um Bandolim de rasgos generosos, no momento de fazer o
buraco do instrumento, o fiz muito pequeno e o Bandolim adquiriu proporções
fantásticas. Meu talento foi ter podido reconhecer que alguma coisa tinha
acontecido. Depois desse Bandolim, meu mundo foi expandindo-se. Passei para as
figuras e de repente fui criando um universo de formas grandes, que encontravam
superlativo nos pequenos detalhes”.
Daí, os grandes corpos,
com bocas, olhos, narizes, dedos extremamente pequenos para o tamanho das
figuras. Que os torna inusitados. E bem originais. Há quem não goste. Os
entendidos. Eu que não faço parte da inteligência, gosto. E que viva o gordo!
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