Papoulas ou hibiscos?
Uma das exigências que me fiz ao mudar do Rio de Janeiro para Fortaleza,
em 1978, foi morar numa casa com um pequeno quintal. Estava cansado de morar em
apartamentos. Em Manaus sempre morei em casas. É claro, na época, não havia
edifícios de apartamentos. Gosto de plantas. Queria voltar a cultivar algumas.
Minha mãe gostava de rosas. Consegui oito espécies. Eu me enamorei de
papoulas. Até que um dia conversando sobre as ditas com minha amiga Clóris, ela
me corrigiu dizendo que o que admirava não era papoulas e sim, hibiscos. Não
gostei do nome, mas quem sou eu? Diante dos eruditos falava de hibiscos, entre
os meus iguais, era papoula, mesmo.
Ao nota-las, no Rio de Janeiro, pensei que só existisse uma espécie – as
vermelhas, simples. Ao chegar aqui vi que há uma variedade muito grande de
cores e formas. Cheguei a cultivar doze espécies; brancas, vermelhas, rosa, amarelas,
roxas, creme ora com tonalidades mais fortes ou menos, simples ou dobradas.
Fotografei-as.
Curioso que sou, procurei saber se havia diferença entre hibiscos e
papoula. Consultei mestre Houaiss e ele me disse que sim. A papoula é
encontrada, principalmente, do Irã a China. É um alcaloide e dela extrai-se o
ópio e a morfina, por exemplo. Já o hibisco é natural das regiões tropicais,
também um alcaloide, usado em medicamentos e na extração de fibras e graxas. Há
mais de 300 espécies.
Fui depois ao professor Google em busca de imagens, das duas. Há também
uma grande diversidade de formas e cores. Quando li que dela se extrai uma
espécie de graxa, lembrei-me que em épocas de vacas magras, como a que está se
aproximando, elas, as “papoulas”, eram usadas pelos “duros de então” para
lustrar sapatos. Graxa de estudante.
Larissa, mestra em informática,
presenteou-me com o painel, que ilustra essas pequenas notas. Fotos das
espécies cultivadas na casa 990, da Rua Pedro de Queiroz, Fortaleza, Ceará,
Brasil, por este amazonense, de ancestrais nordestinos. Êta, cabra da peste!