quinta-feira, 7 de agosto de 2014



                              Cogumelo atômico


                               06/08/2014 – Dizem os historiadores, que na data de hoje , em mil novecentos e quarenta e cinco, o dia amanheceu quente e úmido em Hiroshima. Que estava tudo normal apesar da guerra. Mas que subitamente as sete horas e sete minutos soaram os alarmes anunciando a iminência de um bombardeio aéreo. Alguns minutos depois surgiram nos céus da cidade quatro B-29, mas não houve nada. Os habitantes pensaram em provocação. E a vida retornou em seu ritmo de sempre.


 
        Pouco depois, as oito horas, surgiram mais três B-29 e dessa vez as sirenes não tocaram. Um dos aviões era pilotado pelo tenente-coronel Paul Tibbets e chamava-se Enola Gay. era o nome da mãe do comandante Tibbets. Dentro do avião estava a bomba atômica com o nome de Little Boy e um poder destrutivo de quinze mil toneladas de dinamites. Estranho feto esse da senhora Enola Gay. As oito e quinze, em ponto, Enola abortou Little Boy sobre Hiroshima, que explodiu quarenta e três segundos depois a quinhentos e oitenta metros de altura, justo sobre um hospital de civis.

Hiroshima desapareceu sobre um enorme clarão enquanto no ar formou-se um estranho cogumelo, mais tarde chamado de “cogumelo atômico”. A bomba foi assim descrita: Little Boy tinha três metros de comprimento; setenta e três centímetros de diâmetro; quarenta e cinco toneladas de peso; a energia de quinze toneladas de TNT; raios quentes entre 2980ºC e 3882ºC no ponto zero, provocando incêndios que se espalharam por vários quilômetros. Resultado: setenta e cinco mil mortos e mais de cem mil feridos. O que teria sentido Enola Gay, a mãe do tenente-coronel Tibbets, quando soube de tudo isso!?  Até hoje, as sequelas ainda são visíveis. Com esse abominável parto, os americanos inauguraram a era atômica.

Muita gente tentou explicar, justificar, condenar ou representar – a bomba. Na literatura, nas artes plásticas, na poesia, na música, no cinema. Vendo agora na televisão as notícias sobre este doloroso aniversário, me lembrei particularmente de duas manifestações artísticas desse fato histórico: o filme “Hiroshima meu amor”, de Alain Resnais, que levantou tanta celeuma e o poema de Carlos Drumond de Andrade, “A Bomba”, no seu livro “Lição de Coisas”, de mil novecentos e sessenta e dois:
“A Bomba
Tem 50 megatons de algidez por 85 de ignominia:
..........................................................................            A bomba
Não destruirá a vida
O homem(tenho esperança) liquidará a bomba...”

Não liquidou. Disseminou-se.  E a energia nuclear é uma ameaça permanente. Eu acho que foi a maior ferida da humanidade, do século XX. Sua cicatriz atravessará os séculos. A televisão pode ter os seus pecados, mas, ela, com o poder da imagem não vai nos fazer esquecer: Almogardo, Biquíni, Hiroshima, Nagasaki – nunca mais! Nunca mais!



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