domingo, 13 de julho de 2014

                         


               

Ser ou não ser macaco

O affair discriminativo do torcedor que jogou uma banana no jogador Daniel Alves e a decisão de descasca-la e come-la, em campo, durante o jogo do Villarreal e Barcelona, no dia 27/04/2014, tem dado muito pano pras mangas, ou melhor, muita banana pros cachos. Até eu! E porque não?

Há os que louvaram o gesto e desenvolveram uma campanha com os dizeres de que “Todos somos macacos”, e outros que condenaram, achando que isso só faz piorar o racismo. Creio que estes venceram, pois, não li ou vi nada mais a respeito. Havia negros de ambos os lados. Os contra eram ou são os mais raivosos. Os a favor eram mais bem humorados. Prefiro esses.

Eu, mulato assumido, sou a favor da campanha, por duas razões: primeira, consultando a galeria de fotografias de macacos do Google confirmei a minha ideia de que como os homens e mulheres (para ser politicamente correto), existem macacos e macacas de várias tonalidades: preto, vermelho, esbranquiçados, sararas... De que cor seria o que jogou a banana?

 Segundo, não tenho preconceito contra os macacos ou qualquer outro bicho. Pois, se você crê em Deus deve acreditar que eles foram criados por Ele, com alguma serventia; se confiarem na ciência, darão credito a campanha, pois de acordo com André Langaney “O homem não descende do macaco, como geralmente se diz. Ele é um macaco”...””São os nossos genes, essas porções de cromossomos encerrados em nossas células, que determinam o que nós somos: indivíduos da espécie humana. Pois bem, os genes humanos não são, em absoluto, originais. A maior parte desses genes é idêntica aos dos chimpanzés.” E por ai vai.

Esses dados foram extraídos do livro “A mais bela história do Homem – De como a terra se tornou humana”. Da Difel. O livro é um diálogo entre André Langaney, Jean Clotes, Jean Guilaine e Dominique Simonnet. Na ocasião, Langaney pertencia a equipe do Museu do Homem, de Paris.

Essas notas veem a propósito da leitura do artigo “Humanizar, sim, macaquear não”, assinado pela juíza de direito e psicanalista, Maria do Socorro M. Bulcão, no Diário do Nordeste, de 8/06/14. Ora, juíza, grande parte dos especialistas que se manifestam sobre o comportamento dos brasileiros, dizem que nós somos peritos mesmo é em macaquear estrangeiros. Quem sabe a senhora já não  disse, algumas vezes?


No momento em que um dos principais assuntos no mundo é o controle do meio ambiente, seria interessante pesquisar quem mais o polui: o homem ou o macaco? Pense apenas nas árvores. Os homens preferem trata-las a motosserra; já, os macacos, habitando-as, conservam-nas inteirinhas, para utilidade deles e sorte nossa. E se divertem pulando de galho em galho, dando muito trato a paciência dos Sebastião Salgado, da vida, querendo documenta-los. Gaiatos. Quem sabe se nós assumíssemos um pouco do nosso lado chimpanzé o mundo não seria melhor?

Variações sobre a copa do mundo
                                         
                                                                                                                                             
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Li um artigo de famoso articulista, cujo nome me escapa, agora, dizendo que os jornalistas brasileiros previam que a Copa do Mundo, que ora se realiza com bastante sucesso, seria um grande fracasso nacional e internacional. Seria uma vergonha para o Brasil. Pois, apenas os estádios, alguns ainda em obras, foram inaugurados. E a mobilidade? E os aeroportos? E o calor?
Creio que li até esse próprio jornalista repetindo essa ladainha, que, para bem da verdade, não era só dos jornalistas, mas de grande maioria dos brasileiros. Eu mesmo, que não sou “adepto”, como diria um português, ouvi amigos ou conhecidos repetirem o chavão inúmeras vezes.
Esqueceram que o futebol é uma paixão mundial. Independe de nacionalidade, idade, cor, religião ou físico. Coloca uma bola diante de uma criança que ainda não tenha dado nem um passo para ver se o primeiro gesto não é chuta-la. Girando-a sobre um dedo parece um deus contemplando o mundo. Para que os estádios ficassem cheios não precisava essa orgia de beleza arquitetônica das doze arenas.  Mas o design da brazuca, ganhou. É muito bonita.
Trinta e duas seleções representam trinta e dois países  diferentes em língua, cor, religião, costumes... Mas o futebol não precisa de interprete, as seleções em campo falam a mesma língua, cuja principal figuração é: um chute e a bola atravessar a trave, e o grito em uníssono de metade da arquibancada: gooooool! Porque o som da que sofreu o gol é: o silêncio, lágrima, ou um bom palavrão, tão válido quanto o gol.                                
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Repito: não sou “adepto”. Mas quando o Brasil não está jogando, torço por qualquer seleção americana ou africana. Manaus, na década de vinte, do século passado, quando eu nasci, era um cidade quase isolada. Não me lembro de na infância ter torcedores na minha casa. Jamais ganhei uma bola de presente. Havia clubes: o Rio Negro, o Nacional, o Olímpico. Frequentei os dois últimos, mas nos bailes de carnaval. Nem sei se havia estádio.
Lembro que, na esquina da “7 de setembro” com “Eduardo Ribeiro”, havia uma casa de comércio, se não engano chamada “Quatro e Quatrocento”, em que havia  um alto-falante que transmitia música diariamente. E num certo dia para o um grande público, a copa do mundo. Lembro apenas que um dos jogadores tinha o apelido de “Diamante Negro”. Quando?
Depois, fui para o Rio de Janeiro e apesar de ser amigo de  torcedores fanáticos, não me contagiei. Cheguei a ser sócio do Flamengo, por razões de amizade. Um dos diretores do clube era meu colega de trabalho e o clube estava fazendo uma campanha para angariar novos sócios. Fui nessa, mas nunca pisei em seu estádio ou salões.
Por último, quase apanho ou sou expulso da casa de uma família amiga, onde assistíamos o jogo Brasil X Uruguai, em 1950. A alegria era geral. No momento em que aconteceu o gol que eliminou o Brasil da copa, o silêncio fúnebre que se seguiu era como se tivesse havido uma perda na família. Não sei se nervoso ou atônito comecei a rir. Não entendia aquilo. Claro, não era um torcedor. E então a raiva virou contra mim. O jeito foi sair discretamente e dias depois pedir desculpas aos meus então anfitriões. Nunca mais aceitei convite para assistir jogo na casa de ninguém. Ia ao cinema nos dias de grandes competições. Agora fico em casa sozinho. Ouvindo o zumbido das torcidas  e  o espocar dos rojões, ao longe.

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Nesta copa, estão presente seleções de vinte e três países: Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia, Chile, Equador, da América do Sul; Estados Unidos, México e Canadá, da América do Norte; Costa Rica, Honduras, da América Central; Japão, Coreia do Sul, Irã, da Ásia; Costa do Marfim, Nigéria, Camarões, Gana, da África; França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Bélgica, Grécia, Espanha, Suiça, Rússia, Holanda, Bósnia-Herzegovina, Croácia, Portugal, da Europa; Austrália, da Oceania. Cinco continentes. Línguas: inglês, francês, alemão,  japonês, coreano, croata, português e os vários dialetos dessas línguas.
Se contarmos só as equipes, são: 704 jogadores a disputarem 64 jogos. Como lidar com toda essa gente num país monoglota? Em que até os países de língua espanhola não nos entendem? Seria interessante observar as várias maneiras como nos comunicamos com esses estrangeiros, principalmente se observarmos que somos um país continental e sabendo que houve jogos no Rio Grande do Sul e em Manaus, onde muitas palavras do nosso cotidiano são as vezes estranhas até a nós mesmos. Claro que a mímica é grande comunicadora. Mas, nem sempre.
Porque tanta reclamação sobre o clima? As equipes brasileiras jogam em temperaturas as mais diversas, assim como altitudes e nem reclamam. Se preparam, é claro.  Quer dizer que os gringos do primeiro mundo são mais fracos do que nós os negros, mulatos e brancos do terceiro? Mais uma pesquisa a ser feita. E quem sabe: bingo! Somos mais fortes mesmo.

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Ir ao estádio para assistir ao jogo é emocionante, mas a televisão, hoje, nos dá detalhes que jamais serão vistos por aqueles. Por exemplo, as grandes jogadas, os dribles, as faltas, as agressões, como as sofridas por Hulk e depois em tristes proporções por Neynar, feitas pelo mesmo jogador colombiano. Agressões testemunhadas. E quem sabe, não punidas.
Divertido é ver de perto a reação dos torcedores na plateia, principalmente quando eles não percebem a câmera: olhos, bocas, gestos, murros no ar, choros e até boas sonecas, no meio de toda aquela euforia.
Pena que não tenham convidado um dos nossos grandes carnavalescos parra fazer a festa de abertura. Pois, como estamos vendo, o grande sucesso da copa foi e é a sua carnavalização pelos torcedores. Melhor e mais animado, mais espontâneo e mais barato do que qualquer carnatal, fortal ou que nome tenham, esses murados carnavais fora de época. Bastou um palco e um telão, numa praia ou numa praça e a festa está feita. E é só de quatro em quatro anos, também uma catarse política?



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